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quarta-feira, 28 de março de 2012

Puericultura: PREVENÇÃO DA INTOLERÂNCIA ALIMENTAR

 
 
 
Puericultura realizada em 28/03/12

Princípios básicos

    A introdução correta de alimentos naturais à dieta infantil, longe de ser questão sem importância ou de preferências pessoais e culturais, é assunto complexo, cientificamente estudado, que requer o conhecimento básico de alguns princípios da peculiar fisiologia do lactente. Ao nos preocuparmos com este assunto, devemos considerar não apenas as necessidades nutricionais em si, como também o funcionamento do sistema digestório do lactente e suas intricadas relações com o sistema imunológico.
Vários trabalhos e pesquisas científicas demonstram que a correta alimentação do bebê, além de evitar uma série de problemas no presente, pode também prevenir uma infinidade de doenças no futuro - a maioria de fundo imunológico - passíveis de serem adquiridas durante a primeira infância, mas de manifestações clínicas tardias.
    Essas doenças são classificadas, latu sensu, dentro da síndrome da intolerância alimentar e podem ter as mais diversas apresentações clínicas: asma, rinite alérgica, diarréia crônica (doença celíaca e intolerância à proteína do leite de vaca), dermatite, enxaqueca, distúrbios digestórios, úlceras bucais recorrentes (aftas), certas leucorréias , vertigem posicional, alguns tipos de epilepsia e de distúrbios de comportamento, entre outras coisas . Geralmente, estão associadas a determinados alimentos que sensibilizam imunologicamente o indivíduo, através do sistema digestório, durante a primeira infância.

Noções de imunologia

    O sistema imunológico humano é, basicamente, constituído pelas células de defesa, glóbulos brancos ou leucócitos. A principal função dos leucócitos é reconhecer quais são as substâncias próprias do indivíduo (self) e quais são as substâncias estranhas (non-self). As substâncias próprias são respeitadas pelas células de defesa, enquanto as substâncias estranhas (que chamamos de antígenos) são destruídas. Por meio desse mecanismo, o organismo combate, por exemplo, os microorganismos invasores, como os vírus e as bactérias causadoras de doenças infecciosas. Para destruir os antígenos, os leucócitos produzem substâncias chamadas anticorpos, que interagem e inativam os antígenos.
    Cada tipo de antígeno só é inativado por um tipo de anticorpo específico. Para que o sistema imunológico possa produzir o anticorpo específico, é necessário que ocorra a sensibilização das células de defesa por um antígeno. A sensibilização é processo complexo que envolve vários tipos de células do sistema imunológico, mas, para simplificar, posso dizer que a sensibilização depende da introdução do antígeno na corrente sangüínea (local onde vivem os leucócitos) e do reconhecimento do antígeno como substância estranha pelo sistema imunológico. A partir deste reconhecimento, o leucócito vai produzir o anticorpo específico para inativar o antígeno (complexo antígeno-anticorpo). O antígeno inativado é eliminado sem causar problemas para o indivíduo, se não for alérgico. No indivíduo alérgico, os fatos acontecem de maneira bem diferente.

    O que é alergia?

Alergia é uma anormalidade do sistema imunológico. Os indivíduos alérgicos, quando se deparam com determinado antígeno, para o qual estão previamente sensibilizados, produzem e liberam na corrente sangüínea quantidade exageradamente grande de um tipo de anticorpo denominado IgE . Este anticorpo tem a capacidade de interagir com um tipo de célula imunológica situada nos tecidos orgânicos, denominada mastócito. O mastócito, por sua vez, produz e possui em seu interior uma substância chamada histamina. Normalmente, a histamina é liberada nos tecidos em pequenas quantidades, para participar de reações inflamatórias, mas a presença de IgE em grande quantidade no sangue faz com que os mastócitos descarreguem de uma vez todo o seu conteúdo de histamina nos tecidos. Isso causa reação inflamatória local ou generalizada e desproporcionada, a qual produz os sintomas clínicos da alergia. Dependendo do indivíduo, o processo alérgico pode ocorrer em qualquer parte do corpo onde existam mastócitos: na pele, no intestino, nos brônquios, no nariz etc.

    O que a alimentação do bebê tem de ver com tudo isso?

    Na maioria das vezes, quando falamos em antígenos, ou substâncias antigênicas, estamos falando em proteínas. Proteínas são grandes moléculas biológicas produzidas apenas pelos seres vivos e que diferem enormemente entre si. Elas são parte obrigatória da nutrição humana. Todos os dias, ingerimos milhares de proteínas, todas elas antígenos em potencial. Normalmente, as proteínas são digeridas e quebradas em componentes menores, chamados aminoácidos (os quais não têm capacidade antigênica), antes de serem absorvidas pelo sistema digestório e adentrarem a corrente sangüínea.
    No entanto, vários estudos científicos demonstram que, em certas condições, as proteínas alimentares podem ser absorvidas integralmente do bolo alimentar, através do mecanismo chamado fagocitose. Através da fagocitose, as células intestinais absorvem e lançam na corrente sangüínea proteínas inteiras não digeridas, que se constituem em antígenos potenciais, capazes de sensibilizar o sistema imunológico. A fagocitose ocorre normalmente em escala praticamente desprezível no ser humano adulto. À medida que se considerem idades cada vez menores, o fenômeno aumenta, chegando a ter intensidade máxima no recém-nascido prematuro, que absorve parte das proteínas alimentares através deste processo.
    O mecanismo de absorção protéica é importante para o recém-nascido, que tem a sua última chance de incorporar à corrente sangüínea os anticorpos maternos secretados através do colostro (o primeiro leite após o parto). Como os anticorpos e as proteínas alimentares do leite materno não são reconhecidos pelo organismo do recém-nascido como substâncias estranhas, não têm capacidade antigênica. Por outro lado, nesta fase suscetível, a administração de proteínas estranhas, como as do leite de vaca ou a do glúten (gliadina), pode sensibilizar o sistema imunológico. Se a criança tiver alguma predisposição, a sensibilização pode manifestar-se futuramente como uma doença clínica - respectivamente, a intolerância à proteína do leite de vaca e a doença celíaca.

    O que fazer?

    Na prática, a melhor medida é não introduzir precocemente proteínas estranhas à alimentação infantil. A melhor maneira de fazer isso, é alimentar o recém-nascido exclusivamente ao seio, durante os seis primeiros meses de vida, porque dificilmente a criança virá a sensibilizar-se com qualquer proteína alimentar. No entanto, não é tudo. Existem alimentos que têm maior poder antigênico, ou seja, maior capacidade de sensibilizar o organismo. A introdução dos alimentos mais antigênicos deve ser adiada o máximo possível, sem, no entanto, comprometer a nutrição da criança, que deve ser, por outro lado, estabelecida de maneira rica e variada.
    A alimentação exclusiva ao seio, durante os seis primeiros meses, é de fundamental importância, entre outros aspectos, porque, além de proporcionar ao lactente dieta balanceada, com todos os nutrientes necessários ao perfeito desenvolvimento, também proporciona alimentação livre de antígenos sensibilizantes. É rica em anticorpos protetores, que conferem a transferência passiva de imunidade natural da mãe para o filho, estimulando a formação da tolerância alimentar. É virtualmente estéril e incapaz de transmitir qualquer tipo de infecção alimentar (como é comum no caso do aleitamento artificial com mamadeiras). E o que não é menos importante, proporciona um contato afetivo de primeira linha entre mãe e filho, o que tem fundamental importância para o equilíbrio e o desenvolvimento psicológico da criança.
    Após o período inicial de seis meses, poderemos começar a introduzir novos alimentos à dieta da criança (sem, no entanto, desmamar do seio), seguindo dois princípios básicos:
    A - Introduzir apenas um alimento de cada vez. Nunca introduza mais de um ao mesmo tempo, porque, no caso de reação indesejável, você vai ter dificuldade de descobrir qual o que causou o problema. Ofereça o novo alimento por três ou quatro dias e, se nada de anormal acontecer, comece a oferecer o próximo da lista, sempre seguindo as mesmas precauções.
    B - Inicialmente, introduza alimentos com baixa capacidade antigênica (alimentos oligoantigênicos). Deixe para introduzir os alimentos mais ricos em proteínas somente mais tarde. Para facilitar-lhe a vida, eis pequena lista seqüencial:
  1. Suco de maçã.
  2. Suco de cenoura.
  3. Suco de mamão.
  4. Suco de beterraba.
  5. Suco de pêra.
  6. Papinha de batata amassada.
  7. Papinha de banana.
  8. Papinha de mandioquinha.
  9. Papinha de arroz.
      Após a introdução de um novo alimento, você pode continuar oferecendo os antigos, seja de forma isolada, ou em combinação de alimentos, para variar o cardápio. Nesta fase não se preocupe em oferecer uma variabilidade muito grande de alimentos, porque o nosso objetivo agora não é nutrir a criança, mas sim habituá-la a uma nova forma de alimentação. Procure introduzir legumes e frutas de acordo com o hábito alimentar da casa. Quanto ao leite de vaca para complementação alimentar, deixe para após o sexto mês. No preparo das papas, utilize só um pouco de óleo de milho e uma pitada de sal, sem qualquer outro tempero. Não use farináceos do tipo maisena ou farinha de arroz a não ser por ordem médica. Evite até o sexto mês o uso de qualquer produto contendo farinha de trigo, centeio, aveia ou cevada, como também o uso de frutas cítricas (laranja, abacaxi e limão). Não use tomates até o sétimo mês. Carne de vaca e aves, cebola e alho, somente após o oitavo mês. Ovo e chocolate, somente após o nono mês. Carne de porco, crustáceos, mel e cogumelos, somente após um ano. Não dê produtos que contenham corantes ou conservantes químicos antes de um ano de idade; aliás, se puder, não dê nunca.
Quanto à carne de peixe é necessário fazer um adendo especial. Pesquisadores de Universidades de Estocolmo descobriram que o consumo de carne de peixe durante o primeiro ano de vida está associado a um menor risco de desenvolvimento de alergias no quarto ano de vida, mostrando que a carne de peixe (e não crustáceos) tem um efeito protetor induzindo a tolerância e diminuindo o risco das doenças alérgicas.
    Durante o decorrer do processo, dúvidas e dificuldades podem surgir. Muitos problemas serão facilmente resolvidos através de orientação especializada e experiente. Se algum problema se apresentar a você, procure o pediatra. Jamais deixe que curiosos e palpiteiros influenciem, de modo a prejudicar a criança. 


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